Aprenda o conceito, os tipos de dados e benefícios da pesquisa secundária, além de dicas práticas para aplicá-la.

Quando você se depara com um problema, o que faz? Inicia pesquisas do zero? E se a empresa não tem maturidade de pesquisa, nem acesso a usuários ou verba; você vai direto para a solução?
Neste artigo, você vai descobrir como a pesquisa secundária pode te ajudar nessas situações. Vamos explorar suas vantagens, tipos de dados e como planejá-la para aproveitar o conhecimento existente e enriquecer suas decisões.
O que é pesquisa secundária (desk research)
Quando nos deparamos com um novo problema, é comum acharmos que estamos começando do zero. Afinal, poucos sentimentos são tão gratificantes quanto o de criar ou descobrir algo inédito.
Mas será que partimos, de fato, de um ponto totalmente novo?
Uma vez ouvi de alguém:
“O erro comum dos ‘jovens’ é acreditar que podem fazer melhor que os antepassados, jogando fora a história e todo o conhecimento anterior produzido. Qualquer avanço só acontece porque pisamos sobre os aprendizados de quem veio antes. ”
Suspeito que quem inventou a pesquisa secundária entendeu esse conceito pois ela consiste na utilização de pesquisas já realizadas por outros profissionais. Na prática, tudo aquilo que já foi publicado, compartilhado, analisado ou tabelado pode se transformar em matéria-prima para o seu projeto.
Tipos de dados secundários
Ao falar de pesquisa secundária, três grandes categorias de dados se destacam:
- Dados desagregados: também chamados de microdados ou dados brutos. Por exemplo resultados individuais de um questionário antes que sejam combinados.Dados agregados: dados já consolidados, cruzados e prontos para interpretação. Por exemplo relatórios anuais de empresas.Revisão bibliográfica: livros, artigos e outros materiais que já trazem conclusões elaboradas e insights prontos para análise.
Esses dados podem vir de dentro da sua empresa (pesquisas antigas, relatórios de marketing, análises de BI, histórico de workshops e outros) ou de fontes externas (jornais, agências governamentais, universidades, organizações sem fins lucrativos, entre outras).

Vantagens da pesquisa secundária
Particularmente, eu diria que a maior vantagem da pesquisa secundária é a economia de tempo e dinheiro. Conduzir uma investigação do zero, pesquisa primaria, exige maiores gastos e recursos.
Antes de iniciar um processo de pesquisa em qualquer projeto, é crucial avaliar o custo-benefício. Considere:
- Qual é o problema de negócio real?Quanto vale a solução?Esse valor justifica o investimento?
Falamos bastante sobre evitar desperdícios em entregas mal direcionadas, mas raramente mencionamos desperdícios em uma pesquisa sem impacto claro. Por exemplo:
Se uma pesquisa tiver um custo total de R$ 48.000,00 — englobando salários das pessoas envolvidas, despesas com recrutamento de usuários e outros gastos — e proporcionar um retorno mensal de R$ 1.000,00, que poderia ocorrer com o aumento da taxa de conversão, levariam quatro anos para recuperar o investimento inicial.
Diante disso, é fundamental avaliar se a realização dessa pesquisa é justificável, considerando o tempo e os recursos necessários para alcançar o retorno esperado.
Ao pensar nesses aspectos, estamos mostrando que não realizamos pesquisas apenas por fazer, mas porque elas geram valor. Então, quando a empresa não tem maturidade com pesquisas (você ainda tem que convencer sobre o valor da UX research), um desk research (pesquisa secundária) pode ser muito útil, pois envolve menos gastos.
Já usei bastante essa estratégia para criar um produto onde trabalho, quando ainda pesquisa não era valorizada, não tínhamos acesso direto aos usuários e clientes, e o retorno era incerto. Em vez de criar coisas baseadas em achismo, me dediquei ao desk research, encontrei pesquisas governamentais, realizei benchmark de sistemas semelhantes e até assisti vídeos no YouTube. Com isso reduzimos algumas incertezas e até descartamos algumas soluções.
Além da economia de custos, outras vantagens da pesquisa secundária incluem:
- Abertura para novas hipóteses e descobertas: ao consultar diferentes fontes, o repertório aumenta e as perguntas ficam mais estratégicas.Integração entre times: compartilhar conhecimento disponível facilita o alinhamento e acelera ações conjuntas.Identificação de tendências: o acesso a informações de mercado e estudos relevantes pode revelar oportunidades antes ignoradas.
Limites e cuidados
Nem tudo são flores! Analisar dados de terceiros exige um olhar crítico, muitas vezes, você não sabe quais vieses eles carregam, quais perguntas e hipóteses que foram formuladas, nem mesmo qual banco de usuários foi utilizado. Portanto é necessário tomar alguns cuidados:
- Atenção ao ano/mês e à metodologia utilizada, os dados podem estar defasados ou descolados do seu contexto.Se atente aos possíveis vieses, cuidado com interpretações rasas e evite o abuso do “copiar e colar” de insights sem checagem.Mantenha sempre em mente o objetivo da pesquisa, nem todos os dados são aplicáveis. A relevância e a aderência ao seu problema específico são critérios imprescindíveis e não podem ser negligenciados.Avalie a credibilidade da fonte, busque sempre materiais de quem entende o assunto e tem histórico reconhecido.
Planejando uma pesquisa secundária
Na realidade das pesquisas, o cenário ideal raramente se concretiza. Mesmo planejando, sempre surge um imprevisto (imagine sem planejamento algum…), vale a pena pensar em alguns pontos:
1. Objetivo da pesquisa
Sem saber o objetivo, o porquê, o como, etc., você vai abraçar tudo o que aparecer no caminho, e isso é um erro. Lembre-se do custo-benefício; seja tempo, orçamento ou equipe. Então, comece pelo objetivo da pesquisa.
Qual é o objetivo? Qual é a pergunta central? Quais decisões dependem dela?
2. Mapeamento de temas
Quando você tiver seu objetivo claro, vai conseguir mapear temas correlacionados, facilitando a busca de informações. Costumo utilizar mapas mentais e, hoje em dia, temos as ferramentas com inteligência artificial para ajudar, como por exemplo a Miro e o Mymap.
Mapeie temas secundários: além do foco principal, que outros temas podem agregar valor?
3. Definição de critérios
O terceiro passo é definir os critérios para guiar sua pesquisa. Estabelecer palavras-chave, bases e fontes específicas desde o início evitará a dispersão e manterá o foco no que realmente importa.
Escolha critérios claros: o que será considerado (ou não) na busca? Quais palavras-chave, bases e fontes serão usadas?
Opte por fontes confiáveis e apropriadas ao seu objetivo. Se for usar a IA, lembre-se ela é uma ferramenta, não uma fonte da verdade. Alguns bancos que podem ser interessantes: Portal Brasileiro de dados abertos; Cetic; IBGE.
Identifique fontes específicas: priorize aquelas mais confiáveis e aderentes ao seu objetivo.
4. Documentação
Escolha o local e como vai organizar a documentação; pensar em ferramentas colaborativas é essencial para facilitar o trabalho coletivo, seja para quem vai revisar ou consumir.
Centralize a documentação: use planilhas, ferramentas colaborativas e mantenha tudo organizado.
No planejamento envolva outras pessoas, seja o product owner, outro designer, stakeholder, mapeie quem pode contribuir, revisar e participar.
Dominar pesquisa secundária é ser, antes de tudo, uma pessoa estratégica.
É jogar luz sobre decisões importantes e ser sábio para não repetir esforços.
Em vez de gastar tempo “reinventando a roda”, invista no que já foi construído — e faça perguntas ainda melhores.
Referências
- Ampliando suas fontes de dados para desk researchExplorando a pesquisa primária versus a pesquisa secundária: Uma análise comparativaGuia rápido de Desk ResearchMaterial didático do MBA em UX design e UX ResearchUX Baseado em Fatos: Desk Research
Pesquisa secundária: método e benefícios was originally published in UX Collective 🇧🇷 on Medium, where people are continuing the conversation by highlighting and responding to this story.