Como o nosso design impacta o esforço cognitivo de quem usa e por que simplificar é mais técnico do que parece.

Existe um tipo de design que encanta.
E existe um tipo de design que resolve.
Com o tempo, aprendi a valorizar mais o segundo.
Não porque ele seja mais bonito ou mais fácil, muito pelo contrário.
Mas porque ele tem a coragem de desaparecer para que a experiência apareça.
Afinal, simplificar exige maturidade. É sobre saber o que deixar de fora, o que não precisa ser dito, o que atrapalha mais do que ajuda.
Quando o esforço vira barreira
Durante um workshop que ministrei sobre Neurodesign, usei conceitos do livro Thinking, Fast and Slow, de Daniel Kahneman, para explicar como nosso cérebro lida com interfaces digitais. Ele diferencia claramente entre o Sistema 1 (rápido, automático, intuitivo) e o Sistema 2 (lento, analítico e exigente).

Muitas vezes, o que separa alguém de uma boa experiência não é a falta de funcionalidades, mas o excesso delas.
Informações demais. Navegações confusas. Termos técnicos. Microdecisões que parecem pequenas, mas somam.
O resultado? A pessoa até completa sua tarefa, mas sai com a sensação de que foi cansativo demais para aquilo que deveria ser simples.
Como Kahneman diz no livro, cada vez que forçamos o usuário a sair do Sistema 1 e gastar energia mental desnecessária no Sistema 2, estamos criando uma barreira invisível. Nosso cérebro busca conforto cognitivo, e qualquer complicação rouba esse conforto .
É aí que o design falha: não por falta de beleza, mas por excesso de ruído.
Menos é Mais. Mas como fazer isso?
Quando preciso redesenhar algum produto o desafio raramente está em “inventar algo novo”. O desafio real é saber:
- O que manter,O que remover, eO que reposicionar com intenção.
Simplificar, para mim, é uma decisão que começa antes da tela.
É escutar o que não está sendo dito.
É entender o que realmente importa na jornada.
É projetar caminhos que respeitam o tempo, a linguagem e as emoções das pessoas.
Quando conseguimos isso, algo muda: o usuário não apenas usa — ele confia.

Uma dica: Começar com blocos para simplificar
No meu processo de criação (mais atual) gosto de começar sempre com blocos. Não de interface, mas de ideias.
Primeiro, eu coloco tudo sobre a mesa (ou papel rs): funcionalidades, fluxos, conteúdo, necessidades, expectativas. Sem filtro.
Depois, começo a separar: o que é essencial? O que sustenta a experiência? O que podemos abrir mão sem comprometer o propósito? Essa priorização é o que direciona tudo. JURO!
A partir disso começo a montar a interface, como quem monta um quebra-cabeça. É esse exercício de escolhas que me permite criar experiências leves sem serem rasas, simples sem serem simplistas.
Clareza como maturidade de Design
Hoje, eu entendo que quanto mais complexo é um produto ou sistema, maior é a nossa responsabilidade em esconder essa complexidade do usuário.
Não se trata de esconder informação, mas de proteger a experiência.
Um bom design organiza. Prioriza.
Silencia o desnecessário. Amplifica o essencial.
É por isso que os melhores fluxos são aqueles que somem e deixam só o que importa: a sensação de que tudo fez sentido.
Essa escolha constante de clarear, organizar e priorizar tem moldado não só meu jeito de projetar, mas também o que estou construindo agora.
Porque, por mais que a simplicidade esteja presente em todo o processo, é no início, na ideação, que ela é mais desafiadora e mais necessária.

E por fim, sempre acreditei que o design pode e deve facilitar a vida das pessoas. E, ultimamente, tenho sentido uma vontade de facilitar a vida de quem projeta — e no fim facilitar a minha também né?
Muita gente acredita que a criatividade nasce do caos. Mas o que vejo, cada vez mais, é que o excesso de ruído, pressão e expectativa acaba engessando a criação.
Tenho pensado muito sobre como, no meio de processos, metas e entregas, a gente vai se afastando do prazer de imaginar, de experimentar, de inventar. No fim, a criatividade vira cobrança. E, no lugar da leveza, entra o peso.
Foi por isso que comecei a construir algo novo. Um produto feito para ajudar designers a acessarem sua criatividade com mais leveza, clareza e confiança.
Ainda não posso abrir muito, mas posso dizer que é algo feito por designers, para designers, que nasceu de um propósito que me acompanha desde sempre: deixar o caminho mais simples.
Quer saber o que vem aí?
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Em breve, vou dividir mais sobre essa construção e sobre o porquê de acreditar que clareza, no design e na vida, é uma forma profunda de cuidado.
Fontes e referências utilizadas no artigo
- Daniel Kahneman — Thinking, Fast and SlowTeoria da Carga Cognitiva — John SwellerDesign do dia a dia — Don Norman
Por que o design precisa ser intencionalmente simples e como aprendi isso no mundo real was originally published in UX Collective 🇧🇷 on Medium, where people are continuing the conversation by highlighting and responding to this story.