“Não teve designer?” — E se olharmos além?
Por trás de muitas aplicações, existem designers dedicados buscando as melhores soluções. E fazemos parte desse meio.

Tenho percebido muitas pessoas (incluindo designers) criticando abertamente aplicativos, sites e serviços digitais em redes sociais, inclusive redes profissionais. E muitas vezes, o tom é agressivo ou impaciente.
Por um lado, pode ser importante expor problemas onde quem trabalha neles também está presente. Por outro lado, como essas críticas são feitas esquecem de tudo o que existe por trás de um produto.
Na verdade, sabemos que muitas vezes existem designers por trás dessas soluções. E muitas vezes, bons designers, que se empenham em resolver problemas do melhor jeito possível.
Sabemos que tem gente tentando encontrar soluções, melhorando as coisas aos poucos. O que acabamos esquecendo é que esses profissionais (vulgo, nós) lidam com diversos desafios: prioridades malucas, limitações técnicas, prazos apertados, recursos limitados. Isso pode impedir que a experiência seja entregue exatamente como gostaríamos.
Já enfrentei inúmeros obstáculos que me impediram de ir além e de entregar o melhor possível. Também já comemorei pequenas melhorias que talvez o usuário nem tenha percebido. E, claro, também já reclamei, porque no fim das contas sou usuária e desejo produtos que funcionem bem… Quem nunca já passou por tudo isso?!
Ao mesmo tempo, percebo como a crítica costuma chegar rápido, principalmente quando o usuário está perto de nós. É comum ouvir “não teve designer, não?” quando algo não agrada. E nós, como designer, sabemos o quanto isso incomoda.
Essa frase/pergunta simplifica demais um trabalho complexo e ignora que não é só o designer que faz um produto acontecer. Existe todo um time por trás: desenvolvimento, produto, tecnologia, áreas de negócio, liderança.
Designers não são as únicas responsáveis por garantir uma experiência perfeita.
Quando alguém comenta dizendo que “não tem designer”, esquece toda a rede de decisões, prioridades e restrições que moldam o resultado final…
Este texto é especialmente para designers que costumam fazer esse tipo de crítica, como se tudo fosse culpa ou responsabilidade exclusiva do designer.
Os bastidores invisíveis do design
Quando alguém fala “não teve designer?”, parece que só designers poderiam resolver todos os problemas sozinhos. E sabemos que não é bem assim.
Isso não quer dizer que devemos aceitar tudo sem questionar. Reclamar, apontar problemas e cobrar melhorias faz parte, pois é assim que ajudamos a evoluir. Mas é bom lembrar que, junto com essa crítica, existem pessoas fazendo o que podem com as ferramentas e condições que têm.
E não estou dizendo isso como alguém que nunca reclamou. Já fiz isso, mas em meios mais reservados… e às vezes até me arrependo de ter sido tão dura.
Às vezes, só queria ser uma usuária em paz, sem pensar que sou a Marina que é Product Designer, e só poder reclamar mesmo. Mas essa vontade se esbarra na realidade de que, do outro lado, existe um time tentando fazer o melhor possível… e a gente está bem ali também, vivendo essa mesma tensão.

A sensação de estar vivendo em dois mundos
Vivemos com uma consciência dupla o tempo todo.
Como usuário, nossa sensibilidade fica ligada nas falhas, nas coisas que não funcionam bem, nos passos confusos. A expectativa é alta, e a frustração quando algo não entrega o que promete costuma ser grande. É aquela parte do “crítico exigente” querendo que tudo funcione direitinho.
Ao mesmo tempo, como quem cria, sabemos o que acontece nos bastidores. As negociações, os limites técnicos, os prazos apertados, as prioridades que mudam toda hora. Entendemos que nem sempre dá pra entregar tudo do jeito que imaginamos, e que muitas pequenas conquistas passam despercebidas pelos usuários. Existe um esforço enorme que nem sempre aparece, e quem está do lado de cá sabe bem disso.
Viver entre esses dois mundos cansa.
É uma troca constante entre a mente do usuário impaciente e do profissional que entende as dificuldades. E isso acaba gerando aquela culpa chata quando soltamos uma crítica mais pesada… porque, no fundo, sabemos que estamos cobrando colegas que também estão na luta, tentando fazer o melhor possível.
Crítica construtiva ou destrutiva?
Quando falamos de crítica, vale lembrar que existe uma grande diferença entre criticar para ajudar e criticar apenas para atacar. Como bem define o Fomento Digital:
“Entender a diferença entre crítica construtiva e crítica destrutiva é essencial para um ambiente de trabalho saudável. Enquanto a crítica construtiva é focada em soluções e melhorias, a crítica destrutiva tende a ser negativa e pode desmotivar os profissionais. A crítica destrutiva muitas vezes ignora os aspectos positivos e se concentra apenas nos erros, o que pode levar a um clima de tensão e insegurança. Portanto, promover uma cultura de feedback construtivo é vital para o sucesso de qualquer equipe.”
Trazer essa consciência ajuda a transformar nossa posição de usuários críticos em uma postura mais profissional e empática, sem perder a firmeza para cobrar melhorias.
Reflexão
Como equilibrar essa dualidade? Ser usuários críticos, sem perder a empatia por quem está criando (colegas de profissão)? Afinal, também somos designers.
Sabemos, talvez mais que ninguém, como cada detalhe carrega esforço, escolhas e limitações, e como carregamos a mesma vontade de acertar, mesmo quando o resultado não é perfeito.
- Até que ponto conseguimos entender os desafios reais enfrentados pelos designers e pelo time inteiro ao criar produtos digitais?Como equilibrar nossa posição de usuários críticos com a empatia necessária para reconhecer o esforço coletivo?O que nos leva a responsabilizar apenas o designer por problemas complexos em produtos? Até porque nós estamos nesse lugar também…Como podemos transformar nossas críticas em conversas construtivas, em vez de ataques simplistas?
Não estou aqui para impor regras ou dizer o que devemos fazer. Esse é um diálogo coletivo, um convite para trocarmos ideias e refletirmos juntos. Precisamos de espaços onde possamos conversar com sinceridade e empatia.

Referências
- Como fazer e receber críticas construtivas [2024] • AsanaO que é Critica Construtiva — Fomento DigitalOs 6 desafios não tecnológicos do desenvolvimento digital | ApolíticoComo lidar com críticas no trabalho: aprenda a salvar sua autoestima!
“Não teve designer?” — E se olharmos além? was originally published in UX Collective 🇧🇷 on Medium, where people are continuing the conversation by highlighting and responding to this story.